O que é Impacto Fêmoro-acetabular ?

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O quadril é a articulação (junta) que une os ossos da bacia e do fêmur. Ele é chamado também de articulação coxo-femoral.

O quadril pode sofrer várias doenças, sendo que a mais comum é o seu desgaste, ou artrose.
Das condições que podem levar ao desgaste do quadril, a mais comum é o impacto femoroacetabular.

O que é Impacto femoroacetabular?

O impacto femoroacetabular (IFA) é uma situação mecânica que ocorre quando a articulação do quadril apresenta uma incongruência nos extremos de suas amplitudes de movimento, especialmente quando ele é dobrado ou rodado para dentro.
Esta incongruência pode ser devida a deformidades do osso da bacia, especialmente em sua borda, o acetábulo, ou a deformidades da cabeça do fêmur. Na maioria das vezes, há osso a mais tanto na cabeça quanto na bacia.

Quais são os tipos de Impacto Femoroacetabular?

Came
O impacto tipo came resulta do contato entre uma cabeça do fêmur anormal e o acetábulo (borda da bacia).
É mais comum em indivíduos do sexo masculino, praticantes de atividades esportivas e na terceira ou quarta década de vida;
‘Came’ é definido pelo dicionário Michaelis como “dispositivo de máquina, destinado a converter um movimento rotativo regular em movimento rotativo irregular, rápido ou lento, intermitente ou alternativo; ressalto do came, arrasto”. É este tipo de comportamento que a cabeça do fêmur tem com relação ao acetábulo, devido ao seu formato elíptico.


Impacto fêmoro-acetabular tipo came: durante a flexão do quadril, a porção anesférica da cabeça femoral (protuberância ou bossa da transição colo e cabeça femoral) colide contra o teto da bacia (acetábulo). A cartilagem é descolada progressivamente pelo cisalhamento, o que leva ao rompimento do labrum.

A avulsão condral leva ao destacamento secundário do lábio fibro-cartilaginoso ou labrum. Na região de contato ósseo há a formação de cistos subcondrais, identificados à ressonância magnética e tomografia computadorizada e, em casos mais avançados, nas radiografias simples.

Pinçamento ou torquês

O impacto tipo pinçamento (“Pincer”) ou torquês é resultado do contato de uma borda acetabular anormal com o colo (pescoço) do fêmur normal.
O pinçamento é mais comum em mulheres de meia idade praticantes ou não de atividades esportivas.


Impacto femoroacetabular tipo pinçamento: devido ao excesso de cobertura acetabular, o lábio é danificado diretamente pela junção colo-cabeça femoral. A lesão da cartilagem acetabular, em sua porção ântero-lateral, é menos extensa que a do IFA tipo came. A cartilagem acetabular posterior é lesada por mecanismo de contra-golpe da cabeça femoral.

Misto
Os impactos tipos came ou pinçamento raramente ocorrem como mecanismos isolados. Setenta por cento dos pacientes com impacto tem problemas no fêmur e na bacia.

Por que tratar o impacto femoroacetabular é importante?

A colisão entre as estruturas anormais no impacto leva ao destacamento da cartilagem que recobre o acetábulo e à lesão de sua borda fibro-cartilaginosa, que é o labrum ou lábio acetabular.
O destacamento da cartilagem parece com o de um carpete solto, e é irreversível ou seja, uma vez que a cartilagem está danificada, não há como repará-la. Por isto o tratamento precoce do IFA é muito importante.

Lembre-se:
O impacto fêmoro-acetabular é uma das causas de desgaste do quadril
Com o desenvolvimento do diagnóstico e do tratamento do Impacto fêmoro-acetabular os ortopedistas hoje podem alcançar sucesso na conduta de uma patologia desconhecida até uma década atrás e que ainda é pouco diagnosticada.

Quem pode ter IFA? Como é a dor?

A maioria dos pacientes com impacto femoroacetabular encontra-se entre a terceira e a quinta década de vida. A queixa é de dor inguinal (raiz da coxa) irradiada para a região de dentro da coxa ou joelho, o que pode retardar o diagnóstico porque é muito parecida com lesões musculares (distensões da coxa ou da virilha).

A dor evolui no seguinte roteiro:

- Dor residual após atividades físicas que envolvem sobrecarga do quadril;
- Dor durante a prática das atividades físicas;
- Diminuição gradativa da mobilidade do quadril;
- Progressão da dor para atividades do dia-a-dia como se sentar ou levantar-se de cadeiras baixas, permanecer sentado muito tempo, entrar e sair do carro e subir escadas;
- Em casos avançados, dor ao mudar de posição na cama ou mesmo em repouso, com limitação de toda amplitude de movimento do quadril.

Quais os esportes mais comuns para o desenvolvimento dos sintomas de IFA?
- Futebol;
- Tênis;
- Squash;
- Rúgbi;
- Hóquei;
- Natação (nado clássico ou de peito);
- Surfe e Wakeboard;
- Yoga;
- Ciclismo de estrada
- Remo;
- Automobilismo (em carros baixos).

Quais exames o seu médico irá pedir?

O ortopedista, além de examinar o paciente, especialmente testar a movimentação do quadril dobrando e rodando a perna e avaliando a força muscular, irá pedir alguns exames para o diagnóstico.
Os exames mais comuns são as radiografias simples, para investigar os ossos e a ressonância nuclear magnética, para investigar a cartilagem, o labrum e as lesões dos músculos.

Eventualmente podem ser pedidas tomografias computadorizadas que, se reconstruídas em três dimensões dão uma imagem precisa das deformidades ósseas.


Uma artrorressonância magnética, exame em que é injetado contraste dentro do quadril é mais sensível que a ressonância comum e pode ser pedido em casos de dúvida.
Como é o tratamento do impacto femoroacetabular?
O tratamento desta lesão pode ser tentado com fisioterapia, orientação das atividades esportivae do dia-a-dia e, de acordo com a sugestão de seu ortopedista, com reforço muscular e uso de protetores de cartilagem.
Lembre-se:
A fisioterapia visando aumento de amplitude articular e alongamentos é contra-produtiva, pois exacerba o impacto fêmoro-acetabular e pode acelerar o desgaste da cartilagem.
Infelizmente, esta doença é geralmente progressiva e, com a manutenção dos sintomas, é preconizado o tratamento com cirurgia.

Como é a cirurgia para o tratamento do IFA?
Existem dois tipos de cirurgia: a luxação cirúrgica do quadril e a artroscopia do quadril.
Em ambas as técnicas o paciente vai embora para casa no mesmo dia da cirurgia ou no dia seguinte, por segurança.
Até hoje a luxação cirúrgica, que é uma incisão (corte para mostrar as estruturas danificadas e corrigir os defeitos) tem os melhores resultados.



É uma cirurgia realizada com bastante segurança por ortopedistas acostumados a realizá-la, com baixos riscos de complicações.
A artroscopia consiste numa técnica de olhar a articulação através de cânulas especiais, com uso de fibras óticas, e possibilita o manuseio de tecidos com instrumentos flexíveis, podendo-se retirar os contornos ósseos a mais, colocarem-se âncoras (aparelhos que fixam o lábio cartilaginoso ao osso), tudo com menos agressão aos músculos e tendões. Entretanto é uma técnica relativamente nova que deve ser realizada apenas por cirurgiões experientes.



Como é a recuperação após uma cirurgia de impacto fêmoro-acetabular?

Tanto na cirurgia aberta quanto na artroscopia, o paciente deve movimentar logo o quadril e pode andar de imediato, embora deva pisar de leve por três a seis semanas, usando muletas.
A fisioterapia é iniciada logo no hospital e é crucial para a boa evolução.
Todo o tratamento depois da cirurgia depende das lesões da cartilagem encontradas na cirurgia. Em geral, quanto pior o estado da cartilagem, mãos lenta a recuperação e, infelizmente, pior o resultado final da cirurgia.
O tempo de recuperação total após a cirurgia varia de três a seis meses.
Lembre-se:
O impacto femoroacetabular é considerado a principal causa de lesões labiais e pode levar à artrose precoce do quadril.
O principal sintoma é a dor na região da virilha ao andar, sentar ou levantar-se da posição sentada.
A correção do IFA através de cirurgia aberta ou artroscópica abre novos horizontes no tratamento de pacientes que antes não tinham como serem abordados adequadamente.
O ortopedista geral deve saber reconhecer esta patologia e indicar adequadamente seu tratamento.
O ortopedista especialista em quadril tem treinamento específico para realizar cirurgias de IFA e adequadamente conduzir seu pós-operatório.

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Autores:

• Dr. Henrique Berwanger Cabrita
Doutor em Ortopedia pela Universidade de São Paulo
Assistente do Grupo de Quadril do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Membro das Sociedades Brasileiras de Ortopedia e Traumatologia, Quadril, Artroscopia e Medicina Esportiva
Membro do Instituto Vita

• Prof. Dr. Luiz Sérgio Marcelino Gomes
Mestre e Doutor em Ortopedia pela Universidade de São Paulo (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto)
Chefe do Grupo de Quadril do Hospital e Maternidade Celso Pierro - PUC (Campinas)
Chefe do Serviço de Cirurgia e Reabilitação Ortopédico-Traumatológica de Batatais (SECROT)
Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Quadril (SBQ)
Fellow do Hennepin County Medical Center e Orthopaedic Biomechanics Laboratory, Midwest Orthopaedic Research Foundation, Minneapolis Medical Research Foundation and University of Minnesota, MN, USA.

• Dr. Marco Antonio Pedroni
Mestre em Cirurgia - PUCPR
Especialista em Ortopedista e Traumatologista, Quadril e Artroscopia
Professor da PUCPR e Universidade Positivo
Presidente Sociedade Brasileira de Quadril Regional Paraná


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