Artroplastia é alívio para a dor
A artrose, a artrite reumatóide e outras doenças que afetam as articulações causam muita dor e, em casos graves, impedem as pessoas de realizar atividades simples como andar ou subir escadas. Isso porque causam o desgaste das cartilagens que cobrem os ossos. E o contato das extremidades desprotegidas provoca desconforto e até imobilidade. Várias medidas podem ser tomadas para desacelerar o processo de desgaste e amenizar os sintomas. Fisioterapia e tratamento com analgésicos e condroprotetores são os mais usados. Manter-se no peso ideal para não sobrecarregar as articulações e diminuir o esforço físico também são alternativas. Mas quando a doença está em um estágio avançado, deformando a articulação afetada, a única solução para voltar a ter uma vida normal e sem sofrimento é a artroplastia – cirurgia em que a cartilagem danificada é substituída por próteses de metal e de plástico que impedem o contato direto dos ossos. As artroplastias mais comuns são de joelho e de quadril, mas a cirurgia pode ser realizada em qualquer articulação: ombro, dedos da mão, cotovelo, tornozelo e até coluna. "O principal objetivo do procedimento é tirar a dor e permitir que o paciente realize as suas funções normais", explica o ortopedista Paulo Alencar, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR). De acordo com o ortopedista José Ricardo Pécora, do grupo de joelho do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), estima-se que no Brasil sejam realizadas cerca de 70 mil artroplastias por ano. Nos Estados Unidos, são 450 mil.
Tudo indica que o número cresça nos próximos anos. "Com o aumento da expectativa de vida e a busca por qualidade de vida, é natural que as pessoas procurem a artroplastia para se manter ativas por mais tempo", explica. Para o médico Paulo Alencar, as artroplastias são uma das cirurgias mais seguras que existem, pois são minimamente invasivas, realizadas por navegação cirúrgica. "Em 95% dos casos, não existe nenhuma complicação. O risco de infecções é de apenas 1%", aponta. Entretanto, a cirurgia apresenta desvantagens. A principal delas é a durabilidade das próteses, entre 10 e 15 anos. Alguns fatores, porém, podem prolongar a vida útil das peças. "Se o paciente manter o peso controlado, não exercer atividades muito intensas e não tiver problemas como osteoporose ou deformidades ósseas, sua prótese poderá durar até 20 anos", enumera Alencar. O principal objetivo dos pesquisadores no momento é criar uma prótese com durabilidade máxima para que a substituição das peças não seja necessária. "Geralmente, quando um paciente faz a cirurgia após os 60 anos, não precisa enfrentar uma nova cirurgia. Mas se criarmos próteses que duram 50 anos, os mais jovens também não precisarão se preocupar", prevê.
Vida nova
O empresário José Ferreira, 55 anos, realizou a artroplastia de quadril há seis meses. "Eu tinha dores horríveis, só caminhava de bengala e como atuo na área de construção civil, não conseguia mais trabalhar. A cirurgia foi a única solução, pois já tinha tentado de tudo. Felizmente, a operação correu tranquilamente e a recuperação foi muito rápida. Em 20 dias eu já estava no escritório e um mês depois estava dirigindo", conta. Exercícios de impacto não são recomendados, mas pacientes que realizaram a cirurgia podem andar de bicicleta, caminhar e praticar esportes como tênis e natação. "Até mesmo um leve trote é permitido", garante Pékora.
Células-tronco podem reconstruir a cartilagem
Uma alternativa às próteses de metal está chegando ao Brasil pelas mãos de um médico curitibano. O especialista em cirurgia de joelho Alcy Vilas Boas participou na Alemanha do desenvolvimento de uma nova técnica para o tratamento biológico das lesões de cartilagem, a partir da utilização de células-tronco. A artroplastia de desbridamento e abrasão, também conhecida como bioprótese, reconstroi a cartilagem do local onde houve perda, provocada por lesão traumática ou degenerativa (artrose), por meio de uma artroscopia (cirurgia minimamente invasiva). Durante a cirurgia, o tecido lesionado e cerca de 2 milímetros do osso, que ficou endurecido por causa do atrito, é removido. O local é desgastado até deixar exposto um osso sadio, e perfurado até a medular do osso. Esta ação causa um sangramento que faz brotar as células-tronco mesenquimais e forma um coágulo sobre a lesão, que se transforma em novas células de cartilagem. Uma técnica ainda mais avançada é a retirada de células tronco da medula óssea. "Essas células são mais potentes. Fazemos uma punção da medula óssea, multiplicamos essas células em laboratório e as injetamos no joelho. As futuras gerações ainda poderão adquirir células-tronco do cordão umbilical", explica Vilas Boas. A técnica, fruto de pesquisas desenvolvidas há cerca de 25 anos na Europa e nos Estados Unidos, também pode ser aplicada em outras articulações como ombro, tornozelo, quadril e coluna. A bioprótese é especialmente vantajosa para pessoas jovens que sofrem de artrose. "A prótese metálica tem vida útil curta, principalmente se a pessoa é muito ativa. Quando a cartilagem é reconstruída, não há essa preocupação." O procedimento só não é indicado para pacientes quimioterápicos, com doenças metabólicas ou com artrite reumatoide. Como todo o procedimento é realizado com apenas dois cortes de aproximadamente 0,5 centímetro cada, o risco de infecção e de trombose é menor. Como não há gastos com a fabricação da prótese (que custa em torno de R$ 9 mil), o preço da cirurgia também cai pela metade. "Estou desenvolvendo a técnica junto com o departamento de engenharia de tecidos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e em cerca de dois meses já estará disponível", conta o médico. (JK)
Medicamento após cirurgia
Após toda cirurgia realizada nos membros inferiores existe o risco de desenvolver a formação de coágulos no interior das veias profundas, que bloqueiam o fluxo sanguíneo. Quando um fragmento desse coágulo se desloca para os pulmões ocorre a embolia pulmonar, que pode levar à morte. Por isso é importante o tratamento preventivo. "Ele deve ser realizado com anticoagulantes por pelo menos dez dias após a artroplastia de joelho e de 28 a 35 dias após a de quadril", explica o ortopedista José Ricardo Pékora, do Hospital de Clínicas da USP. Um novo medicamento, o exetilato de dabigratrana, do laboratório Boehringer Ingelheim do Brasil, promete tornar o tratamento mais acessível. Além de ser oral, dispensa o monitoramento constante do paciente.
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