Osteoartrite: tipologia e tratamento

    Doenças Reumáticas são doenças e alterações funcionais do sistema musculoesquelético de causa não traumática. Há mais de uma centena de doenças reumáticas, cada qual com vários subtipos, onde se incluem as doenças inflamatórias do sistema musculoesquelético, do tecido conjuntivo e dos vasos, as doenças degenerativas das articulações periféricas e da coluna vertebral, as doenças metabólicas ósseas e articulares, as alterações dos tecidos moles periarticulares e as doenças de outros órgãos e/ou sistemas relacionadas com as anteriores, estas doenças reumáticas podem ser agudas, recorrentes ou crônicas e atingem pessoas de todas as idades. Estudos apontam que as mulheres, sobretudo a partir dos 65 anos, são quem mais sofrem com as doenças reumáticas.

    Este artigo tem por base referencias da literatura, e irá discutir assuntos a cerca de doenças reumáticas, aqui em relevância a osteoartrite ou osteoartrose e como a atividade física pode auxiliar no tratamento como método não farmacológico, para portadores dessas doenças.

Artrose

    A osteoartrite (OA) também conhecida como osteaortrose, doença articular degenerativa ou artrite hipertrófica, é uma doença crônica multifatorial que leva à incapacidade funcional progressiva, de característica reumática mais prevalente entre indivíduos com mais de 65 anos de idade. Estudos americanos apontam que mais de 50 milhões de pessoas apresentam hoje esta enfermidade. No Brasil, não existem dados precisos sobre esta prevalência, que atinge as articulações sinoviais e caracteriza-se por apresentar alterações na cartilagem articular, dando origem a zonas de fibrilação e fissura, dor e rigidez articular, deformidade e progressiva perda da função, afetando o indivíduo em múltiplas dimensões: do nível orgânico até o social (ROIMISHER, 1980)1 e (THREKELD, 1988)2. Atinge diversas articulações, em geral, expostas à maiores sobrecargas.

    As dores no joelho, em pacientes de idade superior a 60 anos, são freqüentes e, em geral, é provocada pelo desequilíbrio muscular decorrente do envelhecimento ou mesmo do processo degenerativo tão comum nesses pacientes (SLEMENDA et al. 1997)3. Homens e mulheres são igualmente afetados, embora no homem a maior prevalência seja antes dos 45 anos e, nas mulheres, depois dos 45 anos (SKARE, 1999)6.

    Segundo Burnning e Materson4, manter a mobilidade articular é muito importante para os pacientes com artrose, pois a perda de amplitude de movimento causa encurtamento, contratura nos músculos e estruturas capsulares, podendo dificultar a funcionalidade. A força do alongamento deve ser controlada em casos de inflamação, pois esta diminui a força tênsil do músculo em 50% (BURNNING, 1991)4 e (HOFFMAN, 1993)5.

Alguns tratamentos relatados na literatura

    Para esse tipo de doença crônica e multifatorial que pode levar a incapacidade funcional, o tratamento deve ser também multidisciplinar e buscar a melhora funcional clinica e mecânica. Os trabalhos para o tratamento são:

  • Motivação e envolvimento do paciente no seu tratamento, pois o paciente é um agente ativo no seu programa de reabilitação;

  • A prática de atividades esportivas deve ser estimulada, porém sob orientação de um profissional habilitado;

  • Orientação para cuidados com relação ao uso de rampas e escadas;

  • Orientação com relação à ergonomia do trabalho doméstico ou profissional;

  • Fortalecimento – ganho de massa muscular através de exercícios de força. O fortalecimento do músculo quadríceps deve ser feito nas AO do joelho (ETTINGER, 1997)7;

  • Aeróbios – Condicionamento físico (ETTINGER, 1997)7;

  • Alongamento Flexibilidade (VAN BAAR, 1998)8.

    Também podem ser indicados quando há necessidade de melhora, auxiliar ou substituir uma função. A estabilização que se dá por meio de goteiras elásticas é efetiva no tratamento da sintomatologia dolorosa da OA fêmur-patelar.

    Alguns estudos nos servem de base para que possamos chegar a algum consenso na hora de agirmos como profissionais para prescrição de atividade física, segue algumas dicas e sugestões:

  • Fase aguda da doença: se houver edema priorizar exercícios isométricos;

  • Fase crônica: sempre usar aparelhos, como forma de auxilio na execução do movimento, trabalho aeróbio: melhora a capacidade funcional (bicicleta e elíptico, sugere-se sempre utilizar equipamentos em cadeia cinética fechada), hidroginástica e hidroterapia são indicados por diminuírem significativamente o impacto nas articulações, exercícios de alongamento e relaxamento, exercícios de controle postural e sempre indicar movimentos em amplitudes intermediarias.

    Ainda segundo Wladymir et al.9, "O próprio consenso brasileiro para diagnóstico e tratamento da artrite reumatóide é bastante evasivo no que concerne o tratamento não-medicamentoso por meio de EF." Sugere apenas que o condicionamento físico deve envolver atividades aeróbias, exercícios resistidos, alongamentos e relaxamento e que essas atividades devem ser estimuladas observando-se os critérios e tolerância ao exercício e à fadiga.

Materiais e métodos

    Este trabalho caracteriza um estudo clínico de caráter semi-experimental. O estudo foi realizado em um Studio Personal, por uma profissional de Educação Física com formação em Personal Trainer.

    O presente estudo foi realizado com um indivíduo do sexo masculino, com idade de 55anos, peso corporal de 72,8 quilos, estatura de 1,69 metros, pressão arterial (PA) de 120/80 mmHg, freqüência cardíaca de repouso (FCR) 58 bpm (batimentos por minutos), percentual de gordura de 24,8% e faz atividade física 3 vezes por semana. Durante 3 meses.

    Para os testes, foram utilizados os seguintes materiais:

  • Balança digital Plena;

  • Fita métrica;

  • Compasso Cescorf com leitura de 0,1mm.

    Foi realizado o teste VO2 pelo método de esforço Ergonométrico em clinica cardiológica especializada, acompanhado pelo médico cardiologista. Para o cálculo da composição corporal, foi utilizado o protocolo de Pollock.

    Nesse estudo, avaliou-se a flexibilidade, através do Teste de Sentar e Alcançar, utilizando o banco de Wells, realizado antes e após intervenção, para comparação dos resultados.

    Inicialmente realizou-se pesquisa para verificar a qualidade de vida do individuo em questão, utilizando para tal um questionário especifico formulado pelo profissional. As questões foram formuladas objetivando verificar o estado físico e psicológico, sendo realizada entrevista para constatar relato de queixas quanto a desconforto e dores pelo paciente. O paciente relatou dores no joelho direito diante do qual foi solicitado exame junto ao medico ortopedista, que especificou raios-x para detectar alguma anomalia.

    O método utilizado foi trabalho de exercícios funcionais juntamente com musculação, trabalho de alongamento e condicionamento físico moderado. Foram aplicadas três sessões semanais de duração de 75 minutos cada, durante 12 semanas consecutivas, sendo as 2 semanas iniciais de adaptação, realizando avaliação inicial e final.

    Os exercícios realizados estão descriminados na Tabela 1 abaixo, sendo inicialmente 2 semanas de adaptação e depois com incrementos e com descanso de 2 minutos por execução da série de exercícios, os exercícios aeróbicos foram aplicados na esteira e na rua para um melhor desempenho.

Tabela 1. Exercícios aplicados no treinamento de musculação

    No inicio do treinamento foram aplicadas os testes de escala de Borg que é uma percepção subjetiva de esforço, esta escala avalia a intensidade da dor, quantificando em uma escala de 0 a 10, onde 0 não representa dor e 10 representa o limite máximo da pessoa para o exercício. A aplicação do teste foi antes para a elaboração do treinamento.

Resultados e discussões

    Os resultados mostrados a seguir para melhor compreensão, a melhor forma optada foi por tabela e gráficos. Na tabela 2, podemos analisar as variáveis antes e depois da intervenção.

Tabela 2. Variáveis analisadas antes e depois da intervenção

    Os resultados do aumento do peso corporal e a baixa porcentagem de gordura indicaram a eficácia do programa de exercícios, onde a massa gorda foi substituída pela massa magra com redução de 25,8%, o VO2 teve um aumento de 24,4% e em relação à flexibilidade houve um aumento de 31,6%, são resultados bons para uma pessoa de 55 anos com problemas articulares e de acordo com relatos do paciente percebeu melhora substancial em sua condição física e reduziu as dores no joelho onde foi constatado a OA.

    Com a análise nos dados pré e pós teste, juntamente com a anamnese realizada, pode-se constatar a melhora, na condição de dor do pesquisado, isto verificado em exames realizados junto ao médico ortopedista e por relatos na melhora da dor do avaliado.

    Não há na literatura um consenso no que diz respeito a um protocolo geral no tratamento não farmacológico da OA, o que existe são registros a cerca dos benefícios da atividade física para esse grupo. Houve também, uma melhora no quadro geral do condicionamento físico do avaliado, o que nos comprova, que mesmo diagnosticado OA e com relatos de dor do paciente, um programa de exercícios bem aplicado, favorece positivamente no quadro álgico. Notou-se também, que o ganho de condicionamento físico acompanhou a diminuição da dor, o que nos leva a crer que um trabalho de condicionamento físico voltado à saúde (onde na literatura, sugere-se trabalhar exercícios voltados a antropometría, ao VO2 Max, a resistência muscular, a força muscular e flexibilidade) é uma boa recomendação para tratar a OA.

    Segundo FEDER10, a perda da força e da potência musculares leva à diminuição na capacidade de promover torque articular rápido e necessário às atividades que requerem força moderada, como: elevar-se da cadeira, subir escadas e manter o equilíbrio ao evitar obstáculos. Isso, além de causar maior dependência do indivíduo, pode facilitar as quedas. O treinamento de força vem nos ajudar nessa perda da capacidade como observamos no trabalho realizado o aumento da força do aluno estudado, os exercícios realizados foram trabalhos isométricos o qual indicado para articulações instáveis ou edemaciadas essas contrações isométricas produzem baixa pressão articular e são bem toleradas por pacientes idosos (ROGIND et al., 1998)11.

    Os exercícios isotônicos devem ser usados inicialmente com pesos de 40% da carga máxima do indivíduo, chegando a um aumentando máximo de 80% e realizando intervalo de recuperação de dois minutos para cada sessão de exercício executado e pós término do treinamento, de 48 horas (VOZ et al., 2005)12 e (VICENTE et al., 2002)13.

Considerações finais

    A atividade física vem sendo utilizada como um método não farmacológico no tratamento e prevenção da osteoartrite. Verificou-se que o treinamento de força, flexibilidade e o aeróbico foram muito eficazes. Diversos autores e pesquisas relatam os benefícios da atividade física, mas o que não se tem ainda é um consenso no que diz respeito a um protocolo geral a ser seguido de atividades, mas sabemos e comprovamos que se prescrevermos um treinamento individual e colocarmos em prática respeitando o limite e o descanso entre os exercícios terá um ótimo resultado e retardaremos as dores e os desequilíbrios, pois teremos suporte muscular para essa doença. Deve-se ainda levar em consideração se o portador da doença esta sob ação aguda ou crônica, porque as indicações de atividades físicas mudam o que não interfere na prática de exercícios, desde que esses sejam bem orientados.

Referências bibliográficas

  1. ROIMISHER S. Conceito, Etiopatogenia e Patologia da Artrose. In: Cruz Filho (Ed): Clínica Reumatológica, Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1980, p. 486-490.

  2. THREKELD A. J.; CURRIER D. P. Osteoarthritis: effects on synovial joints tissues. Phys Ther 68: 364-370, 1988.

  3. SLEMENDA C.; BRANDT K. D.; HEILMAN D. K.; MAZZUCA S.; BRAUNSTEIN E. M.; KATZ B. P.; WOLINSKY F. D. Quadriceps weakness and osteoarthritis of the knee. Ann Intern Med. 1997;127(2):97-104.

  4. BURNNING R. D.; MATERSON R. S. A rational program of exercise for patients with osteoarthritis. Semin Arthritis Rheum 21: 33-43, 1991.

  5. HOFFMAN D. F. Arthritis and exercise. Prim Care 20: 895-910, 1993.

  6. SKARE T. L. Reumatologia: Princípios e Práticas. Ed. Guanabara Koogan S.A. Rio de Janeiro, 1999.

  7. ETTINGER W. H.; BURNS R.; MESSIER S. P. A randomized trial comparing aerobic exercise and resistance exercise with a health education program in older adults with knee osteoarthritis: the Fitness Arthritis and Seniors Trial (FAST). JAMA: 277: 25-31, 1997.

  8. VAN BAAR ME; DEKKER J.; OSTENDORP R. A. B. J Rheumatol 25: 2432-2439, 1998.

  9. WLADYMIR K.; AMABIL D. B; GEVAERD M. S.; DOMENECH S. C. Artrite reumatóide e exercício físico: resgate histórico e cenário atual. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde • Volume 14, Número 1, 2009.

  10. FEDER G.; CRYER C.; DONOVAN S.; CARTER Y. Guidelines for the prevention of falls in people over 65. The Guidelines' Dev Group. BMJ. 2000; 321(7267):1007-11.

  11. ROGIND H., BIBOW N. B.; JENSEN B.; MOLLER H. C.; FRIMODT M. H.; BLIDDAL H. The effects of a physical training program on patients with osteoarthritis of the knees. Arch Phys Med Rehabil. 1998; 79(11):1421-7.

  12. VOS N. J.; SINGH N. A.; ROSS D. A.; STAVRINOS T. M.; ORR R.; FIATARONE S. M. A. Optimal load for increasing muscle power during explosive resistance training in older adults. J Gerontol A. Biol. Sci. Med. 2005; 60(5):638-47.

  13. VINCENT K. R.; BRAITH R. W.; FELDMAN R. A.; MAGYARI P. M.; CUTLER R. B.; PERSIN S. A. Resistance exercise and physical performance in adults aged 60 to 83. J Am Geriatric Soc. 2002; 50(6):1100-7.

Autores:

Alessandra Zorzan de Souza*

Prof. Ms. Erivelton Fontana de Laat**

alevolei21@hotmail.com








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Um comentário:

  1. Me surpreende um site de Fisioterapia publicar um artigo de educador fisico com tantos viés, isso acaba com a credibilidade do site. Existem diversos artigos de fisioterapia sobre OA e em um site de "Faça Fisio" esperava encontrar temas e artigos da nossa profissão.

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