Doenças das articulações e do tecido conjuntivo
As alterações das articulações e dos seus componentes (músculos, ossos, cartilagens e tendões) consideram-se doenças do tecido conjuntivo, já que estas estruturas contêm grandes quantidades desse tecido. Contudo, muitas delas são também um tipo de doença auto-imune que se caracteriza pela presença de reacções imunológicas em que algo desencadeia a reacção do sistema imunitário contra os próprios tecidos do corpo e a produção de anticorpos anormais que atacam esses tecidos (auto-anticorpos). (Ver secção 16, capítulo 168) As reacções imunológicas caracterizam-se pela existência de inflamação (um processo de reparação que diminui uma vez completado este processo).
Contudo, nas doenças auto-imunes, a inflamação pode ser crónica e lesar os tecidos normais. Por exemplo, na artrite reumatóide, a inflamação crónica prejudica a cartilagem da articulação. Nesta e em muitas outras doenças auto-imunes, a inflamação afecta várias articulações, provavelmente porque se deve aos anticorpos que circulam pelo organismo dentro da circulação sanguínea.
O tecido conjuntivo pode inflamar-se dentro e à volta das articulações e de outras partes do corpo, tal como os músculos.
Também podem ser afectados o invólucro do coração (pericárdio), a membrana que envolve os pulmões (pleura) e inclusive o cérebro. O tipo e a gravidade dos sintomas dependem dos órgãos afectados.
Diagnóstico
O diagnóstico de cada doença auto-imune baseia-se na sintomatologia, nos resultados do exame físico e nas análises laboratoriais. Por vezes, os sintomas de uma doença sobrepõem-se tanto aos de outra que é difícil fazer uma distinção entre elas, o que leva a diagnosticar uma doença do tecido conjuntivo não diferenciada ou uma doença denominada «de sobreposição».
A anemia (um valor baixo de glóbulos vermelhos) com frequência acompanha as doenças do tecido conjuntivo. Nestas, a velocidade de sedimentação (que mede a velocidade a que os glóbulos vermelhos assentam no fundo de um tubo graduado cheio de sangue) é, em muitos casos, superior à normal. Uma velocidade superior à normal sugere a presença de uma inflamação activa; mas esta análise não é suficiente para identificar a causa da mesma. Os médicos podem vigiar periodicamente a velocidade de sedimentação quando os sintomas são ligeiros, a fim de determinar se a doença ainda está activa.
Em algumas doenças do tecido conjuntivo podem detectar-se anticorpos pouco comuns e medir a sua concentração no sangue. Se os anticorpos são específicos de uma doença, a sua presença confirma o diagnóstico. Por exemplo, os anticorpos anti-ADN de cadeia dupla apresentam-se quase exclusivamente no lúpus eritematoso sistémico. Contudo, na maioria das doenças os anticorpos não são específicos da doença. Por exemplo, 70 % dos indivíduos com artrite reumatóide têm anticorpos chamados factor reumatóide; contudo, os 30 % restantes não os têm. Da mesma forma, o factor reumatóide pode estar presente noutras doenças. Nesses casos, os resultados dos exames laboratoriais podem contribuir para o diagnóstico, mas não confirmá-lo.
Quando uma doença afecta um tecido ou órgão específico, o médico pode efectuar uma biopsia, que consiste na extracção de uma amostra desse tecido que é examinado ao microscópio, para detectar as alterações. Os resultados podem ser úteis para confirmar um diagnóstico de que se suspeitava ou para seguir o processo de uma doença.
Tratamento
O tratamento varia segundo o tipo de doença e a gravidade da mesma. O tratamento farmacológico tem por objectivo reduzir a inflamação. Se os sintomas da inflamação são graves ou quando esta pode implicar um risco para a vida do doente, deve iniciar-se um tratamento agressivo imediatamente.
Entre os medicamentos que reduzem a inflamação estão os anti-inflamatórios não esteróides (AINE), como a aspirina e o ibuprofeno (Ver secção 6, capítulo 61), que se administram para inflamações ligeiras, surtos menores e para o controle da dor. Certos anti-inflamatórios não esteróides podem ser adquiridos sem prescrição médica; em contrapartida, exige-se uma prescrição para as doses elevadas que são empregues habitualmente no tratamento das doenças auto-imunes. Os efeitos secundários (com frequência as perturbações de estômago) são, em geral, de pouca importância quando o tratamento com medicamentos em doses baixas é de curta duração. Em contrapartida, se o tratamento consistir em doses elevadas e for de longa duração, os efeitos secundários podem ser numerosos e graves.
Os cortiscosteróides, uma forma sintética de hormonas naturais, são medicamentos anti-inflamatórios muito potentes que podem ser administrados por meio de injecções ou por via oral. A prednisona é o corticosteróide administrado por via oral mais amplamente utilizado. É possível precisar-se de doses baixas de um corticosteróide durante meses ou anos, uma vez controlada a inflamação com doses mais elevadas. Em comparação com os anti-inflamatórios não esteróides, os corticosteróides causam efeitos secundários muito mais graves, como aumento do açúcar no sangue, aumento do risco de infecção, osteoporose, retenção de líquidos e fragilidade da pele. Para evitá-los, o médico prescreve a dose eficaz mais baixa, especialmente para um tratamento de longa duração.
Administram-se medicamentos imunossupressores como metotrexato, azatioprina e ciclofosfamida para suprimir a resposta imunitária e reduzir desse modo a inflamação. Alguns destes medicamentos também são administrados para tratar o cancro, mas os seus efeitos secundários são potencialmente perigosos. O uso prolongado de azatioprina e ciclofosfamida pode aumentar o risco de desenvolver algumas formas de cancro.
Alguns medicamentos imunossupressores podem contribuir para a disfunção do sistema reprodutor. Qualquer infecção pode ser mortal dado que o sistema imunitário está deprimido. Por conseguinte, administram-se os medicamentos imuno-supressores mais potentes apenas nos casos graves.
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