Proposta fisioterapêutica na Sindrome do Impacto no Ombro em atletas

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Medidas preventivas podem ser adotadas para impedir que o atleta progrida com a Sindrome do Impacto. Entre elas, estão os treinamentos de força, flexibilidade, e propriocepção, além de orientações acerca do tempo de repouso necessário para a recuperação das estruturas passíveis de sofrerem lesão por overuse

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Ganhos de força extra, fora da piscina, permitem ao nadador trabalhar outros músculos além daqueles exigidos no esporte, especialmente os antagonistas aos movimentos da braçada[2,6].
Agregado a isso, treinos de flexibilidade também devem ser aplicados a fim de proteger a musculatura contra encurtamentos e para preservar a amplitude total de movimento sem dor [2,6].
Exercícios de propriocepção oferecem consciência de posicionamento articular e permitem melhor controle dos movimentos, evitando falhas de execução, uma vez que o atleta tem tempo para corrigi-las[2,6].
Por fim, para um programa de prevenção completo, fatores como duração, intensidade e freqüência dos treinos devem ser ponderados para conter a "síndrome do supertreinamento"[6].



Fortalecimento

Desequilíbrios musculares ocorrem sempre que a ação agonista prevalece de maneira desproporcional sobre a ação antagonista durante determinada atividade, fazendo com que este se torne fraco e aquele abusivamente mais forte[13,18].
No ombro normal, a relação de força entre rotadores externos e internos (RE/RI) é de aproximadamente 0,6 a 0,8, o que demonstra uma desvantagem natural dos rotadores externos. Em nadadores, este valor tende a ser ainda mais baixo, devido a dominância da rotação interna durante a prática esportiva. Somado a isso, também já foi constatado que a SI reduz de maneira significativa a força de rotação externa do membro superior[9,13].
Schneider e col.[13] avaliaram, em 2006, 26 nadadores púberes de ambos os sexos, dos quais 23% apresentaram o índice RE/RI menor que 0,6, sugerindo fraqueza muscular. Este resultado corrobora os achados de um estudo citado por Schwartzmann[6] e col., onde experimento semelhante foi feito, porém, relacionando a falta de sincronia dos músculos do MR com a prevalência de dor no ombro. Neste trabalho, nadadores com quadro doloroso exibiram a razão RE/RI com valores menores que 0,4, contra 0,7 daqueles que não tinham histórico de dor.
Considerando esses aspectos, a proposta preventiva de fortalecimento muscular visa o reequilíbrio de forças, dando ênfase aos rotadores externos, como o infra-espinhal, o redondo menor, e, sobretudo, o supra-espinhal, que é o mais propenso a desenvolver lesões, pois além de limitar a rotação interna, ao mesmo tempo contribui com a abdução.[3,6].
A abordagem do fortalecimento pode incluir faixas elásticas ou musculação, desde que o treinamento muscular evidencie ações concêntricas, uma vez que na natação ações excêntricas dificilmente são solicitadas[2].
A manutenção de um ritmo escapuloumeral regular, com um trabalho focado nos pivôs (estabilizadores) escapulares, principalmente nos rombóides, trapézio inferior e serrátil anterior, também deve ser alvo do programa de prevenção, visto que suas funções são vitais para a biomecânica normal do ombro[1,2,4,6].
É importante ressaltar que deve-se alternar exercícios específicos para ganho de força com exercícios de endurance, pois, durante a natação, as forças aplicadas são constantes porém não são máximas, e o atleta, além de manter picos de torque para propulsão, precisa estar resistente à fadiga. Estudos comprovam que essa associação, sob o ponto de vista preventivo, reduziu significativamente a presença de dor no ombro nos nadadores[6].

Flexibilidade

Sobre a flexibilidade, apesar de todos os benefícios teóricos conhecidos, na prática, poucos estudos comprovam sua eficácia como um método preventivo de lesão. Entre eles, está um trabalho de 1985, citado por Schwartzmann, onde o estudo original correlacionou a diminuição de flexibilidade com dores no ombro em nadadores[6,19].
Sabe-se que músculos alongados possuem maior poder de contração do que os encurtados, e que quanto mais flexível um segmento, maiores amplitudes de movimento são obtidas sem causar dano às estruturas envolvidas[2,19,21].
Contudo, alongamentos agudos, ou seja, aqueles realizados imediatamente antes do treino esportivo, não garantem ganhos suficientes para evitar lesões. Pelo contrário, alguns trabalhos demonstram que esta prática diminui de forma considerável a força muscular. Por outro lado, verificou-se que, exercícios de flexibilidade, quando realizados em sessões à parte, de forma regular, possuem efeitos crônicos que são eficazes para melhorar a performance do atleta a longo prazo, incluindo velocidade e força de contração[21].
Em 1999, Hartig e Henderson[22], realizaram um estudo comparativo com 298 indivíduos. Destes, 150 receberam um programa de alongamento durante 13 semanas. Constatou-se que a taxa de incidência de lesões por overuse nos que sofreram intervenção foi de 16,7%, contra 29,1% dos 148 que fizeram parte do grupo controle. Estes resultados mostram-se interessantes, visto que o overuse é o tipo de acometimento mais comum em nadadores de alto nível.
Em 2004, Witvrouw et.al.[23]. relataram que, nos esportes em que há ciclos de alongamento-encurtamento contínuos, técnicas que favoreçam a elasticidade músculo-tendínea podem ser bem empregadas para prevenir danos dessas estruturas. A natação se enquadra nessa condição, uma vez que possui alternância de tensão-relaxamento durante as fases da braçada.
Conclui-se, então, que um programa de alongamento, para ter efeito preventivo, deve fazer parte da rotina diária do atleta, e, mesmo quando a amplitude de movimento máxima for alcançada, o treino deve ser mantido para que não haja perda de extensibilidade tecidual[6,19].

Propriocepção

Propriocepção é a sensação transmitida por músculos, tendões e articulações da posição que o segmento está ocupando no espaço, bem como da direção, amplitude e velocidade do movimento que está sendo efetuado. Um bom nadador precisa adquirir esse sentido para saber controlar as forças da água que agem sobre ele[2,24].
Estudos comprovam que o déficit cinestésico é capaz de acarretar uma instabilidade articular significativa, a ponto de evoluir com microtraumas repetitivos. No ombro, sempre que isso acontece, o supra-espinhal e o bíceps braquial são os principais músculos compensatórios e apresentam-se com padrões de atividade fora do comum[24].
Por esse motivo, exercícios propioceptivos são fundamentais para restaurar a estabilidade articular, através de mecanismos neuromusculares, e para promover melhora da dinâmica do segmento, impedindo o aparecimento de disfunções[5].
Treinar propriocepção permite que o atleta tenha consciência postural e que o mesmo esteja apto a selecionar os grupos musculares que irão trabalhar em cada fase do nado. A partir disso, aprende-se a corrigir ações inadequadas para uma determinada técnica e a desativar músculos inapropriados para a atividade pretendida, visto que a intervenção desnecessária destes aumenta o estresse e a fadiga local[2,6,25].
Exercícios fora d'água podem ser eficazes para treinar coordenação, sincronia muscular e para ensinar ao nadador como construir uma memória cinestésica dos movimentos da cintura escapular[2].
Exercícios dentro d'água podem ser úteis para demonstrar ao atleta que pequenas diferenças de posicionamento da mão e/ou do braço durante o nado, podem interferir diretamente na força que será exercida, uma vez que as posturas desses segmentos em relação ao corpo podem acarretar uma maior ou menor resistência oferecida pela água[2].

Supertreinamento

O "supertreinamento" ocorre sempre que os mecanismos de adaptação do atleta são forçados além do que o mesmo pode suportar, predispondo-o a falhas. Essa condição é descrita como multifatorial, sendo o estresse físico e o psicológico os principais agentes desencadeadores. O alto nível tensional instalado, quando acumulado, pode gerar uma queda brusca de produtividade[16].
Sob esse ponto de vista, a contenção do overtrainning e seus efeitos nocivos também tornam-se uma meta preventiva, a medida em que treinos exorbitantes associados a um tempo de descanso reduzido podem afetar não somente o desempenho do individuo nas competições, mas também a sua qualidade de vida[6,20].
Para um nadador ficar supertreinado basta que a o volume de treino exceda sua capacidade de se adequar ao que foi programado. Por isso, o profissional responsável por acompanhar a evolução do atleta precisa estar atento a situações como disposição, tolerância aos exercícios e habilidades técnicas do mesmo[16,20].
O programa de treinamento diário deve ser monitorado dentro dos objetivos traçados, porém, respeitando sempre os limites fisiológicos do nadador, e, aliado a isto, propõe-se a inserção de intervalos para repouso e atividades recreativas em cada sessão. Exercícios de concentração e relaxamento também são indicados a fim de fornecer momentos para reorganização mental e recuperação de energia[16,20,25].
Outros aspectos relacionados à saúde, como os estados nutricional e social também precisam ser considerados dentro de um programa preventivo, uma vez que estresses provenientes dessas relações podem comprometer o desempenho[20].
Todas essas recomendações refletem a complexidade das diversas circunstâncias que podem levar o atleta a progredir com um baixo rendimento e, a partir disso, vir a necessitar de mais e mais treinos. A conseqüência disso é o "supertreinamento", que, como já mencionado, é um fator predisponente a lesões por overuse, que futuramente resultam em distúrbios crônicos e degenerativos[6,20].
Fonte



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